quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Às vezes acho engraçada essa minha dificuldade em escrever aqui com maior frequência. Eu tenho tantas inspirações diárias e quero digitá-las, mas simplesmente a coisa não procede. Não que eu fuja de compromissos,  até assumo um número maior do que daria conta pela minha dificuldade em dizer não - inclusive para mim mesma.

E o problema não se restringe aos textos metidos a divagações deste blog, mas diz respeito a milhares de pequenos sonhos e interesses. As coisas só funcionam para mim quando eu não tenho outra opção. Preciso de um carrasco, uma forte necessidade financeira, emocional ou então só de um impulso que logo perde a força.

Para não dizer que a coisa é patológica, estou bastante satisfeita com os afazeres que tenho a manha de realizar rigorosa e diariamente. Tipo levar o cachorro para passear, ter decorado minha casa planejando cada detalhezinho, ganhar dinheiro para o meu sustento com as mesmas glórias de um funcionário do mês premiado com uma fotografia em destaque.

A questão é que os projetos paralelos, sejam profissionais ou simplesmente imaginativos, aqueles que me dão/dariam destaque individual além de grana e afeto familiar, esses vem e vão e eu raramente consigo prendê-los entre os dedos. 

Finalizando com uma pollyanice e um elogio ao otimismo da vida marital, confesso que essa nuvem de afeto familiar que estou vivendo desde que me casei costuma soar tão suficiente como objetivo final de vida, que dificulta o empenho nos demais projetos. Vou reclamar?

sábado, 22 de outubro de 2011

"ei"

Sobraram uns versos sem rimas e essa incerteza sobre o que aconteceu e o que ainda virá. Costuma ser óbvio para os outros onde é que a gente vai encontrar felicidade, mas enquanto o óbvio não te chama de dentro, de que adianta?
É tudo tão perigoso que qualquer distração que eu tenha no caminho me afasta dele sem poder mais voltar. Tudo tem esse ar de perigoso e definitivo, "perigo nos olhos dela" com toda a sina enraizada de tentação e de pecado que a fêmea tem. A infelicidade mansa é a melhor escolha por ser quase sem riscos - embora pareça balela acreditar que alguém realmente vá agir guiado por isso, ela age.
No final, tudo vira areia embaixo dos pés, as possibilidades se esgotam, você é só alguém risível que confundiu tudo - em público, exposta na vitrine, sem roupas. Só o que sobra mesmo é essa saudade esquisita de uma realidade imaginária.
Essa triste sensação de limpeza, onde não há lágrimas, sequer cheiro.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Eu estou falando com a porta, soluçando frente à porta, me desculpando aflita para a porta. Atrás da porta há encanto sem igual, pedidos desesperados e rouquidão. Duas criaturas imaginárias enjauladas, a maternidade em crise e o poder das fobias com uma porta no meio. Essa vontade louca que a gente sempre tem de que as coisas simplesmente voltem a ser como eram antes.

de quando eu era duas

Eu não sou todas aquelas que te mostro ou que você cisma em descobrir em mim. Sou menos, retraidamente menos do que isso tudo. Entretanto, me divido ao meio, seja lá com simetria ou em nuances perdidas, que traçam desenho abstrato: sou duas. Uma que surge de baixo, deve habitar a terra e sobe como faísca até o peito e as bochechas quando a invoco. Ela você sequer conhece, você só enxerga a face universal, então, não me venha falar em vermelho. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Meu corpo todo foi invadido por uma gestação que só se assemelha ao dito milagre da vida quando esta é concebida como aflição, chacoalhar, falta de sossego. Se vida é paz, então eu venho gestando doença.
Eu clamo pelo oco outra vez.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Eu juro que ainda tenho uma alma comunista pegando fogo mas, já que vivo nessa sociedade e não em outra, degusto fervorosamente todo o fetichismo da mercadoria.

Ser taurina justifica?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

penhasco

há algum encanto no anonimato, na invisibilidade. o prazer em ser vista e não ser notada. em ser tão substituível nas hierarquias formais nas quais me posiciono.
há um deleite em confabular sozinha idéias desdenhosas e quase cruéis camufladas na face imutável, formal, agradável."se eles soubessem o que eu estou pensando". silêncios de quem não tem o luxo da voz.
tudo corre bem até que algum dos fantasmas tropece no abismo em mim e me descubra material. será?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

va-et-vient

quando se aproxima, esquenta, ferve, alguma coisa
arrebenta, doença ou pimenta. não que ninguém observe.
eu escrevo palavras quaisquer em disfarce,
enquanto arde.

quando some é catarse, explosão que se introverte
fico logo truculenta, birrenta. não, ninguém mais serve.
eu penso, muda, sem sequer alarde,
não passa de covarde.

domingo, 21 de agosto de 2011

vindo do interior

Há um demônio vermelho estrelado invadindo meus sonhos noite à noite. Eu tinha controle até escrever sobre ele, agora vai ser difícil reverter a situação.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Jarra

Algumas vozes têm o poder de dar coragem e desanuviar o cabresto - e eu ando precisando muito de coragem. Fui dando espaço aos medos e aprendendo a ser feliz com eles. Minha capacidade de adaptação é alta e desenvolvi técnicas para evitar lugares e pensamentos desconfortáveis. Eu descobri como viver sem medo, só tenho que me impor limites.
A arte no tempo da técnica é técnica e uma  que eu usei, por um período, foi imaginar terra sufocando a minha cabeça concebida como uma jarra. A terra preenchia o vão do queixo e ia subindo vagarosa até cobrir as irregularidades das orelhas e terminar no topo da cabeça. Eu não patenteei, qualquer um pode usar. A terra tem essa propriedade de inibir pensamentos e causar só a prazerosa sensação de peso e de uma completude oca.
É uma forma de estar imune, assim como a repetição sistemática de frases que te causem efeito apaziguador. Infelizmente, palavras são mais íntimas que imagens e eu não cederia as minhas a estranhos por razões óbvias.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pensamento diário

Criar um mamífero filhote na sua casa requer grande tolerância à cocô. Cocô em todas as suas consistências, acompanhado de diversas substâncias outras e do odor mais tênue ao mais homicida.
Junto com o instinto maternal, a natureza me deu um nariz de aço (essencialmente maternal).

Cenas de rotina


Estudando para o concurso de Auditor Fiscal do Trabalho com a minha fiel companheira Brócoli, cuja presença não é tão agradável quanto parece devido às inúmeras vezes que ela pisa no botão de desligar do computador ou deita no teclado.


Bacon bebendo água.



Bisnaguinha charmoso há algumas semanas e, agora, com as orelhas caídas e desajeitadas da adolescência.



Meu mural com a foto que tirei do Cau em San Francisco, lembretes e bilhetinhos fofos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Forças superiores estão colocando em teste minhas chances de evolução espiritual e até mesmo minha índole benevolente: só faço sessões solenes de evangélicos e maçons.
Eu tenho um desvio de caráter que me faz ser muito complacente com regimes totalitários de esquerda - talvez até tendenciosa a eles. Pelo bem da democracia, eu abandonei minha carreira política.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Futuro


Que vontade de sair de São Paulo, decorar uma casa nova com quintal e ter um cachorrão correndo por ele junto com o Bisnaguinha, enquanto minhas gatinhas tomam sol esparramadas na varanda.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

enquanto isso do lado de cá


Esse foi meu primeiro bolo, realizado mediante alguns equívocos culinários, para o C., que chega mais tarde do trabalho.

Escrevo esse texto em intervalos de "Chega, Bacon!" por conta dos pulos do meu gatinho em suas tentativas de capturar meus dedos no teclado. Ele e a irmãzinha, Brócoli, acabaram de completar 3 meses e pesam menos do que 1,5 kg, mas já desenvolveram personalidades distintas e individualmente notáveis. 

Nasceu, de fato, uma família no centro de São Paulo- de quatro integrantes, fruto do acaso e de uma vontade obstinada, dele antagônica consorte.

Eu estou aqui resfriada nesta cama, notebook, meu livro do Saramago e papéis sujos espalhados, repreendendo meu gatinho Bacon e esperando ansiosa C. chegar.
Eu dificilmente poderia estar mais feliz.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

parte I

Ela percebeu que a luz estava acesa. Ainda sem ter retornado da inconsciência que a preenchia pela boca aberta, amarga, seca, quem percebeu o contraste de brilho entre o exterior do quarto e as retinas escondidas foi o corpo - mais precisamente um dos pés, ao passear pela superfície das pernas, em movimento de quem dorme acompanhado somente de si, sem o pudor da movimentação feminina, silenciosa ou mesmo pudica. Seu pé entendeu o amarelo quase agressivo da luz como dia novo e avisou às demais partes do corpo. Trechos do linho dos lençóis e mesmo o colchão tornaram-se cientes da necessidade ancestral de despertar frente à origem já tão repetida do dia, não pelo gérmen de ancestralidade que há em utensílios de pano e espuma para o sono, nem pela sua proximidade atemporal com os seres humanos que deixaram de dormir em madeira ou pedra, nada disso; o que ocorreu é que o corpo estava tão distante da consciência, enterrada esta nas profundezas de quase morte do sono, que aquele, o corpo, abandonadamente orgânico, como só o é de fato quando transformado em cadáver, mesclou-se aos tecidos que acompanhavam o descanso.

Assim, todos souberam que a luz estava acessa, ela e os lençóis, igualmente o colchão.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ocultismo

Mora no meu ventre um dragão escamoso repleto de uma ganância que termina em si.

Dorme com a barriga espalhada sobre o tesouro dos meus defeitos que a ninguém interessa; e, fêmea como é, quando mulher o atiça, arde meu rosto de um vermelho bem distinto do habitual rubor. 

Permite uma transmutação que, após o transe, me parece mal encenada e causa uma dor maior do que o alívio do sangue, finalmente transitando pelo meu corpo após o acúmulo súbito na cabeça.

Eu rumino a gestação eterna deste bicho, que é sinuoso e violento.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011