sábado, 13 de fevereiro de 2010

De sua formosura

-De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.

-é tão belo como a soca
que o canavial multiplica.

-Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas.

-Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia.

-é tão belo como as ondas
em sua adição infinita.

-Belo porque tem do novo
a surpresa e a alegria.

-Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia.

-Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.

-Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.

-E belo porque o novo
todo o velho contagia.

-Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia.

-Infecciona a miséria
com vida nova e sadia.

-Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria.


João Cabral de Melo Neto

Nenhum comentário: