-De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.
-é tão belo como a soca
que o canavial multiplica.
-Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas.
-Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia.
-é tão belo como as ondas
em sua adição infinita.
-Belo porque tem do novo
a surpresa e a alegria.
-Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia.
-Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.
-Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.
-E belo porque o novo
todo o velho contagia.
-Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia.
-Infecciona a miséria
com vida nova e sadia.
-Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria.
João Cabral de Melo Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário