quinta-feira, 29 de julho de 2010

crocodilo

Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens.

Guimarães Rosa, que é tipo tudo que eu quero ser.

"Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda"

Quase uma década, sempre retornando ao Poema em linha reta.

terça-feira, 27 de julho de 2010

"Ninguém sabe o que sou quando rumino. Posso dizer, sem medo de errar, que rumino muito melhor do que falo. A palestra é uma espécie de peneira, por onde a idéia sai com dificuldade. Creio que mais fina, mas muito menos sincera. Ruminando, a idéia fica integra e livre. Sou mais profundo ruminando; e mais elevado também."

Machado.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

que seja bem-vindo

êita, desassossego que vem da terra e mora no ventre
não faça cerimônia que a mesa já está posta

vem e põe abaixo tudo outra vez

domingo, 25 de julho de 2010

brisa nova

meus regressos estéreis ao irrecuperável. pavor do irrecuperável.
sentir desfeitas as raízes e ver voar ao longe meus pedaços soltos.

eu quero de volta meu bordado e minha cadeira
quero aquele conforto perdido da minha espera
eu quero tudo como era
quando eu me sabia inteira

mas são as minhas coxas que denunciam meu disfarce
quando elas se comprimem em genuína catarse
por este novo

ar.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

É uma inquietude do corpo movido por essas sensações agudas, pequenas angústias; é uma dança interna, orgânica, imperceptível aos olhos alheios.
Uma fila de certezas opostas que se sobrepõe, dando voltas em si - coisa de serpente.

Ajudam muito aquelas sensações que descobri quando fui atropelada: sensações do inevitável. Os milésimos de segundo nos quais você percebe o carro tão próximo, tão próximo, antes da pancada quente que vem a seguir.
A aceitação sem resistência, vulnerável, aceitação sem aceitação alguma, vulnerável.
O momento seguinte perdido num tempo cíclico em que você está rente ao chão, antes que alguém possa se aproximar - a mente, pega de surpresa, silencia e permite ao corpo entender aquela pulsação imensa, que até então não é dor, é pura e simplesmente energia.

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E o meu mundo se reconstrói, aquele da vida sem mistificação, aquele em que viver é uma ordem.
Eu quase me surpreendo e me conforto com minhas regras rígidas e práticas para a  vida emocional e sigo sozinha pelo século XIX.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

apagar-me diluir-me desmanchar-me

Estar perdido no labirinto feito beduíno. Labirinto sem muros, sem pátria e sem rei. Ser Minotauro de si.