segunda-feira, 29 de agosto de 2011

penhasco

há algum encanto no anonimato, na invisibilidade. o prazer em ser vista e não ser notada. em ser tão substituível nas hierarquias formais nas quais me posiciono.
há um deleite em confabular sozinha idéias desdenhosas e quase cruéis camufladas na face imutável, formal, agradável."se eles soubessem o que eu estou pensando". silêncios de quem não tem o luxo da voz.
tudo corre bem até que algum dos fantasmas tropece no abismo em mim e me descubra material. será?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

va-et-vient

quando se aproxima, esquenta, ferve, alguma coisa
arrebenta, doença ou pimenta. não que ninguém observe.
eu escrevo palavras quaisquer em disfarce,
enquanto arde.

quando some é catarse, explosão que se introverte
fico logo truculenta, birrenta. não, ninguém mais serve.
eu penso, muda, sem sequer alarde,
não passa de covarde.

domingo, 21 de agosto de 2011

vindo do interior

Há um demônio vermelho estrelado invadindo meus sonhos noite à noite. Eu tinha controle até escrever sobre ele, agora vai ser difícil reverter a situação.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Jarra

Algumas vozes têm o poder de dar coragem e desanuviar o cabresto - e eu ando precisando muito de coragem. Fui dando espaço aos medos e aprendendo a ser feliz com eles. Minha capacidade de adaptação é alta e desenvolvi técnicas para evitar lugares e pensamentos desconfortáveis. Eu descobri como viver sem medo, só tenho que me impor limites.
A arte no tempo da técnica é técnica e uma  que eu usei, por um período, foi imaginar terra sufocando a minha cabeça concebida como uma jarra. A terra preenchia o vão do queixo e ia subindo vagarosa até cobrir as irregularidades das orelhas e terminar no topo da cabeça. Eu não patenteei, qualquer um pode usar. A terra tem essa propriedade de inibir pensamentos e causar só a prazerosa sensação de peso e de uma completude oca.
É uma forma de estar imune, assim como a repetição sistemática de frases que te causem efeito apaziguador. Infelizmente, palavras são mais íntimas que imagens e eu não cederia as minhas a estranhos por razões óbvias.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pensamento diário

Criar um mamífero filhote na sua casa requer grande tolerância à cocô. Cocô em todas as suas consistências, acompanhado de diversas substâncias outras e do odor mais tênue ao mais homicida.
Junto com o instinto maternal, a natureza me deu um nariz de aço (essencialmente maternal).

Cenas de rotina


Estudando para o concurso de Auditor Fiscal do Trabalho com a minha fiel companheira Brócoli, cuja presença não é tão agradável quanto parece devido às inúmeras vezes que ela pisa no botão de desligar do computador ou deita no teclado.


Bacon bebendo água.



Bisnaguinha charmoso há algumas semanas e, agora, com as orelhas caídas e desajeitadas da adolescência.



Meu mural com a foto que tirei do Cau em San Francisco, lembretes e bilhetinhos fofos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Forças superiores estão colocando em teste minhas chances de evolução espiritual e até mesmo minha índole benevolente: só faço sessões solenes de evangélicos e maçons.
Eu tenho um desvio de caráter que me faz ser muito complacente com regimes totalitários de esquerda - talvez até tendenciosa a eles. Pelo bem da democracia, eu abandonei minha carreira política.